Editorial

Perante a desertificação cultural, a anemia cívica e o unanimismo acrítico muito contentinho e penhorado em exibição permanente na Figueira da Foz, um número muito determinado de figueirenses considerou seu dever exercer um direito que a Constituição da República Portuguesa lhes garante no seu artigo 46.º: o de se associarem livremente. Foi assim que nasceu Odezanovedejunho – Associação de Ideias.

Perante a urgência de uma intervenção cívica informada por uma visão resolutamente anti-conformista, progressista e independente dos poderes instalados, Odezanovedejunho tomou a liberdade de criar e difundir nas redes sociais uma página crítica, perscrutadora e desconstrutiva das narrativas habituais, da conjuntura global e da circunstância figueirense.

Este não é, contudo, um projecto jornalístico. Não pretendemos fazer jornalismo: não daremos notícia do acidente rodoviário, do parto na ambulância, do óbito à porta da urgência, da corrupção, do avanço do eucalipto, do sequestro, do atentado ou da inauguração. Também não daremos brado a narrativas confeccionadas por agências de comunicação.

Mas reflectiremos sobre esses e outros factos com a mais ampla liberdade, sem critérios de conveniência ou de oportunidade e sem pseudónimos nem pruridos de pretensa isenção. Publicaremos longos ensaios e breves apontamentos (sobre fenómenos como a arte, a sociedade, o turismo, a política, a ecologia, o urbanismo, a ciência e as humanidades) e desenhos, fotografias, foto-montagens, entrevistas, crónicas, até poemas inéditos e artigos de opinião diversificada. Trata-se afinal de uma revista cultural ilustrada que, dando vez e voz à vida inteligente figueirense, será seguramente um precioso instrumento para convocar o que resta das forças vivas da sociedade civil da nossa cidade para o resgate desta da aparente morte cívica, ou paralisia cerebral, em que se encontra.

Porque mais do que à pedrada ao charco é imperativo chacoalhar o pântano e – sem frio nos olhos nem luvas de pelica – lançar barro à parede, inquietar, questionar, objectar, criticar, exibir, desconstruir, imaginar, propor e ousar fazer acontecer – sem fins lucrativos nem intuitos furtivos, mas com os princípios valiosos e os objectivos elevados tangíveis no nosso manifesto – escarnecendo, se necessário, de tudo o que execramos; levando às nuvens, se possível, tudo o que consideramos. 

Quem quiser juntar-se a nós, siga-nos ou suba a bordo, que a Passarola vai levantar. Viva Odezanovedejunho.