Homenagem à Araucária na Figueira da Foz

por Maria Teresa Rosendo Rito*

Era Bela a Araucária, a sua presença não nos intimidava apesar de Majestosa. Próxima do Jardim Municipal não lhe era sobranceira. Centenária … eram moda as Araucárias nos finais do séc. XIX, começos do XX. Estava no Largo do Tribunal.

Ramos muito verdes que forçadamente tombavam, muitos, muitos, desde pouco mais das 6 horas da manhã do sábado, dia 24 de Maio. A motoserra era ruidosa e implacável, quem a matava.

Foi um pequeno vídeo publicado numa rede social, que me chamou a atenção de uma forma muito dolorosa, pela violência do acto, criminoso.

Esta simples homenagem a uma Magnífica Árvore é também uma homenagem a quem a plantou e dela cuidou e deixou crescer, direitinha ao céu, como ainda se podia admirar naquele fatídico dia. Outros tempos, outras Pessoas. A casa foi construída nos anos 80-90 do séc. XVIII pelo Dr. Ricardo Gomes, licenciado em Direito e com cargo importante na Alfândega e foi, a casa, ao longo do tempo ampliada e reabilitada.

A Araucária foi crescendo conforme a sua natureza, sem qualquer atestado de doença.

Os animais são assistidos pelos veterinários, as plantas pelos fitopatologistas, quando é necessário, mas nunca foi.

Uma Araucária plantada, vive, em média 300 anos, mas pode ultrapassar largamente esta longevidade.

Uma Árvore Classificada de Interesse Municipal, assim referenciada no PDM como Património Natural, portanto Protegida ao Abrigo do Regulamento, foi alvo de um crime premeditado que começou ao nascer do sol, com maquinaria de grande porte a ocupar a via pública, tudo foi feito pelo munícipe, um eleito na Assembleia Municipal, sem a autorização exigida. A destruição/morte da Araucária constitui crime de dano qualificado nos termos previstos no artigo 213 do Código Penal.

Faltou o Respeito pela Araucária e pelos Múltiplos Seres Vivos em Relação e por Nós que a Admirámos e Reconhecemos em cada dia o Direito à Vida.
Faltou também ao actual proprietário, Mandatário deste Vil Acto, Perceber que uma Magnífica Araucária Valorizaria o seu edifício/empreendimento.
Faltou ainda que Todos os que foram Chamados para o Corte, às 6 horas da manhã, o Tivessem Recusado.
Às vezes é Preciso Desobedecer como disse Salgueiro Maia!

No fim daquela manhã já não havia vestígios da Araucária, nem prova da “doença súbita” mas o crime aconteceu e não será arquivado. A Figueira da Foz está mais pobre.

Respeitemos e Valorizemos as Árvores como Seres Vivos e toda a Biodiversidade que Representam.

Não se iludam, porque delas depende a sobrevivência da espécie humana: filtram diversos poluentes, absorvem dióxido de carbono e outros gases com efeito de estufa, 80% da sua biomassa é carbono, reduzem a temperatura do ar, protegem dos ventos, minimizam o impacto da água das chuvas que assim pode infiltrar-se no solo e constituir reserva de água e evitar inundações, produzem oxigénio…

As Árvores embelezam a vida de cada um de nós e proporcionam-nos bem-estar.

Só temos de ser gratos!

*professora e bióloga, integrante do Movimento Parque Verde