Henry Moore a banhos na maré baixa
por Fernando Campos
Para além da exuberante biodiversidade que habita as pequenas poças de água na zona rochosa exposta ao sol quando a maré vaza – alegremente depredada todos os dias por circunspectos paisanos de arpão, fateixa e camaroeiro – a praia de Buarcos também exibe uma surpreendente e não menos espampanante colecção de esculturas.
Dir-se-ia Henry Moore. Mas não. Toda a monumentalidade sensual, orgânica e primitiva que aquelas minerais figuras reclinadas exibem sem pudor na maré-baixa é obra do mar, essoutro grande escultor. E a exposição é gratuita; e permanente, ainda que não dispense consulta da tabela de marés.
– Isto é quase um escândalo na Figueira da Foz – uma cidade tão carente de arte pública de qualidade que uma sociedade de apostas cobra cinco euros por cabeça por exibir pintura moderna que (dizem que) vale milhões nas cavalariças antigas de um palácio de opereta.
Fotos:
Praia da Tamargueira, Buarcos
Henry Moore – three piece, nº 3: Vertebrae (1968) – Henry Moore Foundation – Perry Green, Hertfordshire.
