notas sobre o lançamento de um livro de caricaturas
Fernando Campos vai publicar um livro de caricaturas.
Chama-se “da Figueira e seus contornos” e é também uma edição de autor, como o “Discurso sobre a Figueira”, o pequeno “divertimento em forma de panfleto sarcástico” que o artista lançou durante a pandemia.
A obra, de tiragem muito limitada, que o autor do blogue “O sítio dos desenhos” designou, em sub-título, como um álbum de “vinte e sete retratos desenhados a traço fino e conciso copiosamente ilustrados com textos coloridos e substanciosos & 1 poema de carnaval”, parece realmente “um compêndio de desenhos ilustrados com textos, um pouco à maneira de Rafael Bordalo Pinheiro no seu Álbum de glórias”, como o seu autor pretende na contra-capa. Também parece, como ele aí igualmente sugere, “um livro de humor, de arte, de história, de crónica social, de sátira política, de crítica de costumes”.
Mas o que o livro é sem dúvida, é uma obra invulgar, paradoxal: uma longa narrativa de episódios breves, graves, pícaros e pitorescos, eivada de reflexões e até de evocações auto-biográficas, que pode ser lida como um romance; em verdade, como o grande romance da Figueira dos últimos quarenta anos.
Um romance que, embora ilustrado com desenhos, não é para meninos – um original e caudaloso roman-fleuve que, ao contrário dos mestres do género (Balzac, Proust ou Bolaño), o autor logrou condensar num único volume que não chega a oitenta páginas. Dividido por “capítulos” que são os retratos das suas personagens, sucintamente desenhadas com traço ágil e minimalista, copiosamente descritas em acções que, confluindo como afluentes de um grande rio num pantanoso e luxuriante estuário romanesco aí constituem um friso exuberante, de um hiper-realismo explícito quase expressionista, das grandezas, misérias e bizarrias dos últimos quarenta anos da Figueira da Foz.
Os “capítulos” são numerados mas não as páginas, eis outra das originalidades da obra – pelo que a sua leitura não é necessariamente sequencial; ou seja, pode realmente ser lido do princípio ao fim como os livros convencionais mas também às avessas e até mesmo ao calhas.
Não se trata, no entanto, de uma obra de ficção (tudo nela é real e verdadeiro: das personagens aos factos e à paisagem) o autor não inventou nada, salvo na arte de narrar, como Fernão Lopes, – com uma linguagem sem eufemismos nem concessões mas rica de metáforas e toda a sorte de palavras palavrinhas e palavrões em frases longas e sinuosas ou curtas e lapidares repletas de figuras de estilo e outros artifícios semânticos.
Trata-se de um grande livro, excessivo, superlativo e completamente fora da norma, como todas as obras de arte incontestáveis. Seria um enorme acontecimento editorial, literário e artístico em qualquer cidade minimamente asseada, e até na rentrèe figueirense, se a Figueira porventura tivesse saída.
Mesmo assim, ou por isso mesmo, Odezanovedejunho assegurou para si a honra e o privilégio de patrocinar o seu lançamento no âmbito do EnCantar pela Paz. Será apresentado no dia 13, Sábado – às 17.30h, por Daniel Abrunheiro na Biblioteca Municipal. O evento contará com a presença do autor que terá muito gosto em falar com pessoas, responder a perguntas e assinar autógrafos e tudo, se for caso disso.